terça-feira, 24 de novembro de 2009

CRÍTICA CAMPOS DE PIRATININGA: LUIS VITA.



Uma belíssima e carinhosa crítica foi escrita por LUIS VITA para "Nos Campos de Piratininga". Veja abaixo alguns trechos e leia a matéria completa em http://luisvita.blogspot.com/2009/10/o-que-acontece-quando-um-sambista-quer.html .

O que acontece quando um sambista quer falar dos mais de 100 anos do futebol na cidade de São Paulo? São muitos eventos, inúmeros fatos e distintas influências que tornam essa história mais que simplesmente um enredo sobre um esporte em particular... passaremos a falar de uma cultura nacional. Este é pontapé inicial que dá início à peça "Nos Campos de Piratininga".
A Vila de Piratininga ou o antigo nome da Cidade é o palco da peça escrita por Renata Pallottini e Graça Berman, com direção de Imara Reis. Uma diversão imperdível com belo figurino, momentos hilariantes, atores ótimos e versáteis em um enredo propositadamente pedagógico.

Tudo começa aparentando uma crônica sobre a cidade e seu futebol. Aos poucos vai tornar-se um passeio pela história do Brasil e a constituição de uma nação que respira um esporte nascido da elite ‘griga’ paulistana, mas que misteriosamente conquistou todos os rincões e mais isolado espaço e poluiu os desejos de sucesso de qualquer jovem deste país...
Para falar de tantos elementos o roteiro não pode referir-se apenas ao futebol. Precisamos lembrar de muitas coisas: desde o nascimento dos principais clubes paulistanos e das ligas que abrigaram o esporte até as intrigas políticas que forçaram mudanças sociais profundas. Do esporte amador importado da Inglaterra pelo inglês-brasileiro Charles Muller até o momento de comunhão das diferenças socio-culturais podemos dizer que muita água passa por debaixo da ponte – ou, melhor dizendo: muita bola tem para rolar...

Nos Campos de Piratininga fala de futebol, de cultura, de música, de política e tudo que se refere à sociedade brasileira.
Não poderia ser diferente. Como falar de são-paulinos, corinthianos e palmeirenses sem falar da imigração? Italianos, japoneses, espanhóis, portugueses e ingleses que imigraram da Europa para o Brasil e fizeram aqui sua história misturar-se com a história da sociedade brasileira.

Se os clubes, assim como as conquistas sociais, políticas e econômicas nasciam nas rodas de amigos e tornavam-se cada vez mais presente vida cotidiana da cidade de São Paulo. Entre uma conversa na barbearia e uma engraxada no sapato, os papos sobre política e futebol eram reflexo (e às vezes causa) de inúmeras transformações que hoje negligenciamos. A discrepância entre um aristocrata e um escravo, entre o operário e o patrão, entre a mulher e o homem, entre o artista e o intelectual, entre o corintiano e o palmeirense, qualquer motivo de discórdia também pode ser vista como uma possibilidade de progresso.

Se não podemos entender o futebol sem olhar um cenário mais amplo e complexo transcrito por aspectos políticos, sociais, culturais e econômicos, então assistir a peça é um momento em que um flashback de todas as diferenças e sutilezas do futebol entra em campo para mostrar o quão rebuscado é nossa cultura e o quão necessário foram esforços de inúmeros brasileiros para tornar este o país que temos e o sempre possível o futebol nosso de cada dia...

LUÍS FERNANDO VITAGLIANO
Cientista Social - São Paulo/SP

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